Sem água, famílias indígenas querem poço caseiro e rede da Sanesul
Problema recorrente, falta de água atinge aldeias Bororó e Jaguapiru; bombas queimadas e canos quebrados impedem abastecimento na reserva que tem 16 mil habitantes
Mais uma vez os moradores da reserva indígena de Dourados, município a 233 km de Campo Grande, sofrem com a falta de água. Há 40 dias as torneiras estão secas em vários pontos das aldeias Bororó e Jaguapiru, onde moram 16 mil pessoas, e pelo menos cem famílias sofrem com o desabastecimento.
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Problema recorrente nos últimos anos, a falta de água na reserva ocorre principalmente por ausência de manutenção na rede de abastecimento. Equipamentos que bombeiam a água dos poços estão queimados e canos estourados impedem que o líquido chegue às residências.
Segundo lideranças locais, faltam materiais para manutenção do sistema de abastecimento. “Os representantes da Sesai [Secretaria Especial deSaúde Indígena] em Dourados estão perdidos, não sabem o que fazer porque não recebem as peças necessárias para consertar a rede. Também faltam mais poços, que ninguém providencia a perfuração”, afirmou hoje (3) Levanir Machado, da aldeia Jaguapiru.
Água contaminada e barrenta – Levanir Machado diz que muitas crianças já estão doentes por consumirem água contaminada de minas e de lagoas que se formaram durante a chuva da semana passada.
“Os moradores estão recorrendo às minas, que podem estar contaminadas por agrotóxico usado em lavouras nos arredores da reserva. Minha mulher trabalha na saúde indígena e diz que muitas crianças já estão doentes por causa da água”, afirmou Machado.
Segundo ele, a solução seria a implantação da rede de abastecimento da Sanesul. “Tem que colocar a rede e os relógios da Sanesul nas casas. Não sei se todos conseguiram pagar a conta mensal, mas muita gente está disposta a fazer isso para ter água. Se água é saúde, então nós estamos doentes, porque não temos água de qualidade e quantidade suficiente”.
“A comunidade indígena não quer, mas não vê outra saída a não ser protestar, bloquear rodovia. Não queremos fazer isso e apelamos ao Ministério Público e contamos com a imprensa para uma solução. Mas, infelizmente, as coisas só acontecem quando tem protesto. Foi o que aconteceu com as estradas, que estão todas ‘um tapete’, cascalhadas”, afirmou Levanir Machado.
Poços caseiros – O guarani Carlos Antônio Duarte, 54, morador na aldeia Bororó, disse ao site Dourados Agora que os índios querem voltar a usar água de poços caseiros, que foram proibidos há vários anos por risco de contaminação.
“Agora não pode abrir poço, que é tradição do índio, é proibido. Dizem que a água é contaminada, que dá doenças. Todos deveriam ter o saneamento básico”, afirmou.
Sesai culpa prefeitura – O coordenador do Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), Lindormar Terena, disse hoje ao Campo Grande News que o poço que abastece a aldeia Jaguapiru é cedido pela prefeitura e está sem manutenção.
Levanir Machado disse que a escola tem improvisado para garantir a continuidade das aulas, inclusive com fornecimento de merenda aos alunos.
Lindomar Terena disse que está tentando marcar um horário com o prefeito de Dourados, Murilo Zauith (PSB), para pedir que a prefeitura faça a manutenção do poço. Ele deve seguir para Dourados entre hoje à tarde e a manhã desta quarta-feira. Aguarda apenas a definição da agenda com o prefeito.
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