quarta-feira, 7 de julho de 2010

Exemplo de movimento (PASTORA SIMONE PAIM 1236)

Ensinar, Atuar, Empreender. É esse o lema da Canta Brasil, uma ONG gaúcha que se tornou referência em gestão com um modelo baseado na transparência
por Valentina Nunes



De pernas para o alto
Integrantes de grupo de dança do Canta Brasil se apresentam acompanhados por grupo musical da Vila Gaúcha, de Porto Alegre
Quando Rubielson Medeiros, então com 18 anos, voltou para a casa dos pais em Canoas, no Rio Grande do Sul, ouviu da mãe um ultimato. Durante dois anos, ele havia passado os dias nas ruas de Porto Alegre e São Paulo, envolvido com drogas e praticando pequenos furtos. Agora, precisava tomar uma decisão. Os termos da mãe, a assistente pedagógica Doroti Athaydes Roso, eram claros: ou Medeiros se internava em uma casa de reabilitação, para se livrar da influência das drogas, ou se tornava um voluntário, emprestando sua energia para criar um grupo de dança, sob supervisão da mãe, na escola onde ela trabalhava, no bairro de Mathias Velho, um dos mais violentos de Canoas.
Medeiros não pensou duas vezes: escolheu o voluntariado. Desde cedo ele acreditava que, um dia, poderia se tornar um artista. Quando criança, chegou a excursionar ao México e Estados Unidos ao lado de um coral infantil de Canoas. Havia chegado a hora de retomar a vocação. Em pouco tempo, com o apoio da mãe, assumiu a responsabilidade pelo grupo de dança. Trabalhando com meninas entre 14 e 15 anos, ele descobriu na prática o que era necessário para liderar um grupo: estar disposto a aprender, ter garra para criar oportunidades, disciplina e generosidade para compartilhar.
A primeira apresentação importante foi em 2000, durante as comemorações dos 500 anos de Brasil: dançando uma coreografia original, o grupo chamou a atenção da mídia na cidade. Para divulgar suas atividades, Medeiros passou a visitar redações de jornais, sonhando com oportunidades fora de Canoas. “Numa das redações nos recomendaram enviar um release. Eu nem sabia o que era isso...”, conta. Junto com o aprendizado, vinham os primeiros resultados. “Logo no início houve quem deixasse de roubar e se drogar, como foi o meu caso. Outros deixaram de se prostituir. As meninas mais novas descobriram o interesse pela dança e o desejo de ir para a faculdade. Trabalhando juntos, ganhamos autonomia e autoconfiança.”
Portas abertas
Rubielson Medeiros, o fundador do Canta Brasil, na sede da Associação dos Moradores da Vila Gaúcha, em Porto Alegre
Depois de juntar dinheiro com rifas, festas e demonstrações em semáforos, o grupo fez sua primeira apresentação fora de Canoas, em 2001, durante as comemoraçõs pelos 70 anos do Cristo Redentor. Disposto a transformar seu pequeno grupo em uma organização não governamental, Medeiros começou a correr atrás de contatos e referências: sua inspiração eram grupos como os Amigos da Escola, do Rio Grande do Sul, e o AfroReggae, do Rio de Janeiro. Um dos primeiros a apoiar o grupo foi Alceu Terra Nascimento, diretor executivo da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, do Grupo RBS, afiliado da Rede Globo no Sul do país. “Esses jovens superaram todas as nossas expectativas”, diz Nascimento. “Hoje, são eles que nos ajudam nos nossos projetos.”
Em 2003, a ONG foi formalizada com o nome de Canta Brasil (www.cantabrasileae.org.br). Imediatamente, Medeiros começou a ser procurado por dezenas de crianças e adolescentes, a maioria de bairros violentos da região metropolitana de Porto Alegre. As aulas de dança oferecidas variavam do balé clássico ao hip-hop, passando pelo jazz. Mais tarde, a ONG ofereceria também aulas de inglês e reforço escolar para crianças e adolescentes.

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